quinta-feira, 8 de fevereiro de 2007

MORRO DO MÔCO




EPISÓDIO DE UMA VIVÊNCIA

Quando era mais novo em muitas aventuras me envolvi. Procurava sempre algo novo e por explorar e me fizesse correr nas veias o máximo de adrenalina possível. As minhas companhias eram sempre rapazes mais ou menos da minha idade e com as mesmas ideias e gostos. Fazia parte de vários grupos, para caça, tiro, escaladas, viagens,etc.
Hoje vou falar sobre a escalada ao Morro do Môco, a cota mais alta sobre território Angolano.
Este tema vem a propósito de ler uma postagem de uma grande amiga de infância que falou sobre este Morro.
Reuniu-se o grupo de escaladas e resolveu-se escalar o Môco, tema que vinha sendo alvo de várias conversas. Combinou-se o fim de semana, que seria num sábado, para no caso de não conseguirmos escalar nesse dia, termos de dormir lá no topo ou no caminho e regressar no dia seguinte.
Após uma semana de preparativos e debruçados sobre as cartas militares da região, estudamos o percurso, tanto de Jeep, para nos aproximarmos o mais possível da encosta, como a pé, de modo a chegarmos a um "QUIMBO", assinalado o mais perto do cume.
Chegado o dia, eram para ai quatro horas da manhã e lá íamos a caminho do dito cujo, equipados com o indispensável para o grande feito. Após sair da estrada asfaltada e localizada a picada assinalada na carta, andamos uns bons quilómetros muito devagar, não só porque ainda não tinha clareado, como não conhecia- mos a picada e fomos até onde se podia ir. Levamos connosco o necessário e metemo-nos a caminho, já começava a romper o dia e já não eram necessárias as lanternas. Metemo-nos por um "carreiro" que nos levou ao tal "QUIMBO", para junto da povoação, se indagar qual o melhor caminho para chegarmos ao cume. Chegados ao local, que por sinal era um sítio maravilhoso, situado na encosta do morro, muito limpo e as cubatas dispersas, a maioria da população ainda dormia. Explicamos o nosso intento, mas ninguém nos soube dizer como chegar lá acima. Um dos mais velhos indicou-nos, no seu entender a melhor direcção a seguir e ninguém se ofereceu para nos acompanhar, pareciam ter receio de lá ir, não chegamos a saber bem a razão, porque muito poucos lá tinham ido. Pedimos que nos guardassem alguns objectos que nos pareceram dispensáveis e lá começamos a subida. Não era muito íngreme, mas sim muito longo o trajecto. Seguimos em fila indiana, parando de quando em vez para recuperarmos o fôlego e treinarmos o corpo para o restante caminho, aproveitando para olhar para trás e verificarmos o quanto tínhamos subido apreciando a paisagem. Passadas mais ou menos duas horas com aquele andamento já se sentia o peso das pernas, o ar mais fresco, devido à altitude e um certo cansaço. Mais à frente, tivemos que atravessar uma vegetação tão densa, que se não fosse uma catana que um de nós levava, com a qual se abriu um caminho, teríamos por certo desistido ou enveredar por outra direcção. Dessa vegetação só se ouvia o grunhir dos javalis, que não estariam por certo satisfeitos com a nossa presença porque estávamos invadindo o seu território, onde se escondiam e tinham suas crias. Felizmente nenhum nos atacou e não conseguimos ver um sequer , embora estivessem a uns escassos metros do nosso. Acabado de transpor essa faixa de mata, deparou-se ante nossos olhos ainda uma distancia considerável a percorrer até chegar a uma parte rochosa, com uns metros de altura sobre a qual se encontrava o cume, cume que ainda não era visível do local onde estávamos.
As horas iam passando, o ritmo de andamento era o mesmo e eu, ia ficando cada vez mais sem fôlego, tinha que parar várias vezes, porque o meu coração disparava com o esforço dispendido, fui ficando para trás. Certa altura pensei em desistir, mas movido pelo meu orgulho, lá arranjei coragem e fui seguindo como pude. De facto era o menos preparado, para aquele ritmo, os outros tinham acabado a recruta militar e estavam mais bem preparados devo confessar. A certa altura, comecei a sentir que as botas me estavam a magoar e fazendo bolhas nos pés e, como não chegasse, começaram as cãibras em ambas as pernas. Pensei, se não me der nenhum "BADAGAIO" agora, do coração, de certo não morrerei e lá ia andando como podia. Cada metro que subia em altitude parecia que andava um quilómetro.
Cheguei finalmente à parte rochosa, após um descanso, comecei outra etapa, trepar por aquelas pedras. Poucos metros subidos e lá voltaram as cãibras com mais violência, os músculos das pernas, mais propriamente os "gémeos", saiam do lugar e formavam uma bola que me causavam dores horríveis para os colocar na posição certa. Os meus amigos começaram a ficar preocupados porque vendo o meu estado, não sabiam como fazer para me levar para onde quer que fosse, dado ao local onde estávamos. Nem é bom lembrar! Resolvi descansar com períodos mais prolongados porque já faltava pouco, mas lá consegui com a graça de Deus!!!!!!!!!
Chegados ao topo, deparamo-nos com algo inédito, havia o marco geodésico e ao redor da sua base, bem amarradas, com arames, encontram-se garrafas de cerveja "CUCA", fechadas com a cápsula, como se tivessem o precioso líquido, mas no seu lugar, depois de aberta uma delas, verificou-se que dentro envolto num plástico se encontrava um cartão emitido pela fábrica, com um convite para uma visita especial à fábrica de cerveja seguida de uma refeição, para duas pessoas, assinado pelo director da fábrica. Encontrava-se a poucos metros do marco, uma botija de cerveja chumbada com cimento ao solo, tudo isto levado até lá de helicóptero, creio.
Aliviado por ter conseguido chegar ao topo, descalcei as botas e coloquei-me o mais confortável possível de costas para o chão, com as pernas sobre uma rocha o mais alto que consegui e ai permaneci as duas horas que lá permanecemos. Havia uma neblina que não nos deixava ver o horizonte com nitidez. Os meus amigos tiravam fotos, comiam e contavam anedotas e recuperavam forças para a descida.
Começamos a descida eram para ai duas e tal da tarde, embora não tão penosa, mas com muitas dores, lá conseguimos chegar aos carros já começava a anoitecer.
Chegado a casa, depois de um banho bem quente, esfregadas as pernas com álcool puro, mal conseguia colocar os pés no chão. No dia seguinte telefonei para o nosso posto clínico que pertencia à edilidade onde trabalhava, contei ao enfermeiro o sucedido e depois de verificar os meus pés, disse-me que nunca tinha visto algo semelhante, as plantas de ambos os pés eram uma só bolha, cheia de líquido, que ele furou com uma agulha, encheu-as com uma pomada que me ardeu ainda mais, depois de uns curativos durante uns dias, lá passaram as dores.
Dias depois, um dos meus amigos contactou por telefone a gerência da fábrica "CUCA" e eles marcaram de imediato um dia para a recepção, que começou lá pelas quatro da tarde e prolongou-se noite adentro. Lanche ajantarado, com vários petiscos e bem regado com a melhor cerveja que a fábrica tinha para promover e os barmen não nos deixavam acabar um copo, mal chegava a meio tiravam e serviam logo outro bem tirado. Estava presente um jornalista da cidade mas o facto é que nem sequer me lembro de ver publicado qualquer artigo sobre o feito.
Foi uma aventura que não ousaria tentar de novo, mas valeu a pena.



Um comentário:

jawaa disse...

Parabéns, amigo! A música é linda a acompanhar essa subida tão sofrida, mas que afinal valeu a pena!
Umas fotos já conhecia, mas essa última é um espectáculo!
Continua, força, agora vê se não deixas adormecer este blog como fizeste ao anterior...
Bjo

 
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