sábado, 3 de março de 2007

MUKANKALAS








Uma vez abordado este tema numa postagem anterior, vou agora falar sobre os MUKANKALAS, povo nómada, de baixa estatura e que comunicam através de estalidos com a língua, embora alguns falem outros dialectos.
Por experiência própria sei que têm cura para muitas doenças que o homem branco desconhece.
Certa vez, estando eu a trabalhar na Companhia Mineira do Lobito, no Tchamutete, gostava uma vez por outra, aos fins de semana, ir passar umas tardes com eles e acabava por lá dormir, junto de uma fogueira que eles faziam, no terreiro central das suas cubatas. Para mim, aquelas noites eram um encanto, depois de longas conversas com eles, através de um que falava um pouco de português e que servia de intérprete, deitado num saco cama, observava as estrelas que se viam aos milhares, nas noites escuras, bem como bastantes estrelas cadentes, acabava por adormecer lá para as tantas da noite e acordar com um nascer do sol espectacular, que só em África se pode observar.
De regresso ao Jeep, que ficava a uns quilómetros do acampamento porque eles não queriam que o levasse para perto, talvez para não se fazer notar a sua presença, encontrei um casal branco, ambos na casa dos cinquenta, acompanhados de um empregado preto que procuravam pelos Mukankalas. Perguntei-lhes porque desejavam falar com eles e a mulher disse-me que o marido tinha uma doença grave e tinha poucos dias de vida e, como não tinham nada a perder, queriam ver se eles lhes arranjavam alguma milongada para o não fazer sofrer tanto. Pediram-me para os levar até eles. Disse-lhes para esperarem que ia ver se os recebiam, voltei para trás e depois de conversar com o chefe, deu permissão para eles irem até eles e veio comigo um deles que os levou. Entretanto, passados dias como estava escalado para ir até Nova Lisboa
passar uma semana de descanso, no regresso, vim a saber que o comerciante que levei até eles se encontrava bom de saúde e já na sua casa. Fiquei muito satisfeito.

Certa vez, no Tchamutete a demarcar uma zona onde tinha que abrir uma picada com uns bons quilómetros de distância, longe do acampamento, eram horas do almoço, deixei o taqueómetro montado onde estava estacionado, os empregados foram fazer pirão para comer e eu, já tinha comido umas sandwishes, fui andando por uma clareira e afastei-me dos serventes. Estava só e ouvi o ladrar de vários cães que se aproximavam de mim vindos da mata. Quando me viram, cercaram-me, eram para ai uns dez ou doze e queriam atacar-me, julgando tratar-se de uma peça de caça, não sei, porque talvez nunca tivessem visto um homem branco. Vi a minha vida andar para trás e pensei que daquela não saia vivo. Eram cães bem encorpados e de dentes arreganhados e apenas esperavam que o primeiro me atacasse para fazerem a festa. O que me valeu foi estar armado com uma pistola Walter de 9mm, que a C.M.L., nos obrigava a andar sempre. Saquei da mesma, introduzi uma bala na câmara, tirei outro carregador e segurei-o com a mão esquerda e esperei que me atacassem, até que um deles, mais corajoso ao formar o salto para o meu pescoço ai, não tive remédio, à queima roupa, disparei e ele caiu logo ali redondo. Os outros assustados com o disparo afastaram-se um pouco embora continuassem a ver qual seria o próximo a atacar. Qual o meu espanto vi sair da mata dois Mukankalas, com suas setas e azagaias , assobiaram para eles e deixaram-me em paz. Como não falavam português, embora eu furioso com eles os tivesse insultado, pegaram no cão morto e foram-se embora. No dia seguinte fui chamado ao escritório do Eng.Chefe do acampamento dizendo que lá tinham estado uns Mukankalas exigindo que lhes pagassem não sei quanto pelo preço do cão. Depois de explicado o caso, levaram uma descascadela e nunca mais apareceram por lá.
Estes não pertenciam ao grupo que conhecia e visitava. Dias depois, quando me desloquei ao acampamento dos que conhecia, contei este episódio ao mais velho , que, mais rápido do que pensava, entrou em contacto com o outro grupo, que estava de passagem por aquela zona, mandaram um recado para eu comparecer no acampamento no dia seguinte e lá estavam uns quatro, que me pediram desculpa, tudo ficou em bem.




2 comentários:

jawaa disse...

Música sempre bonita. Desculpa no comentário ao post anterior ter-me esquecido de a referir.
Continua a escrever as tuas aventuras sempre interessantes.
Força!

VICMOTTA disse...

Foi maravilhoso ler esse texto. Chamo-me Victor Motta e trabalhei em Angola entre 1991 e 1996,na Lunda Norte e Luanda. Admiradorde Angola, seus povo e sua cultura, senti-me reconfortado e engrandecido ao conhecer mais essa faceta cultural desse povo magnífico.
Victor Motta.
Belo horizonte, MG Brasil

 
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