BRASIL
Cerca de oito meses da minha chegada a Portugal, refugiado da guerra em Angola, com uma mão à frente e outra atrás e possuidor de uma passagem Lisboa - Recife-Maceió (ida e volta), comprada ainda com escudos angolanos em Nova Lisboa, resolvi ir até à terra de nossos irmãos brasileiros.
A passagem tinha um prazo de um ano para ser utilizada e como estava a terminar, faltavam poucos dias, resolvi telefonar para a TAP e fui a Lisboa para tratar de tudo.
Dias depois, com três ou quatro contos de reis no bolso e um cheque de 1.500 Randes, Sul Africanos ai vou eu!!!!
Viagem maravilhosa, o avião partiu de Lisboa à uma da matina e chegou ao Recife creio que pela hora local brasileira eram ai quatro da manhã. O aeroporto fica a uns kilómetros da cidade e tive que alugar um taxi para me levar para a cidade. O motorista, felismente muito simpático, a meu pedido levou-me para uma pensão económica no centro da cidade, em frente havia um largo com um jardim , a seguir a marginal, a praia e o lindo mar.
Tentei dormir as poucas horas da noite mas já não tinha sono , estava um pouco azambuado devido à diferença horária. Enfim clareou o dia, tomei o pequeno almoço e fui dar uma volta.
Tudo para mim era novidade, a cidade, suas gentes, outro continente, um calor que não estava habituado, etc.
Entrei no primeiro Banco que vi para levantar o cheque que levava mas disseram-me logo que não o podiam fazer, fiquei preocupado, como é lógico. Começaram ai os meus problemas. Fui entrando em todos os bancos a seguir, a resposta sempre a mesma, diziam os empregados e gerentes que a assinatura do cheque não correspondia às que eles tinham em seus ficheiros.
Comecei a poupar os escudos que levei e a fazer contas à vida. Telefonei logo para os meus amigos para lhes dizer onde me encontrava mas, sempre que telefonava para a fábrica onde trabalhavam, nenhum estava. O ida para Maceió estava marcada para dois dias depois.
Passei os dias no Recife, correndo a cidade a pé de um lado para o outro e de banco para banco. Conheci um casal português que se encontra de férias na mesma pensão onde estava alujado, muito simpáticos mas, creio que se encontravam de lua de mel.
Passados esses dias, fui para Maceió e no aeroporto telefonei para os meus amigos e eles, como não esperavam pela minha ida, ficaram surpresos e prontificara-se a ir buscar-me ao aeroporto. Já na fábrica contei como tinham sido os dias passados no Recife e eles me admiraram pela coragem de andar só pelas ruas da cidade sem ter sido assaltado ou coisa do género.
Fiquei alojado na casa de um deles, solteiro na época e ai passei uns dias maravilhosos.
Belas praias, pescarias, passeios e churrascos à beira mar, maravilhoso.
Quando regressei a Portugal, já sem esperanças que o cheque que me tinham passado pudesse ser levantado, entrei no primeiro banco em Lisboa, entreguei o cheque que já se encontrava assinado por trás, ao funcionário que me pediu o B.I., conferiu, introduziu no computador e de seguida, depois de fazer o câmbio me pagou logo.
Não há dúvida, o Brasil é um grande país mas sinceramente o seu sistema ainda estava muito atrazado.
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