ELEFANTE
Quando criei este blog foi apenas com o intuito de nele descrever alguns episódios da minha vida passados
em África.
Desta vez vou relatar um que, como tantos não esqueço e quero dar testemunho.
Fui contratado para executar um trabalho, numa bela região de Angola, perto da Serra da Neve, como era conhecida, local um pouco árido mas maravilhoso. A fazenda ficava a Norte do Camucuio e perto o rio Calucaioma. Nela havia uma nascente de água sulfurosa,que saia da nascente a ferver, que o proprietário aproveitou para fazer uma piscina que era uma beleza.
Com muitas linhas de água ou rios onde só corria água na época das chuvas,nos restantes meses do ano eram apenas extensos areais de areia branquinha.
A sua flora era constituída em grande percentagem por enormes espinheiras onde só à catanada se podia abrir caminho. Ai permaneci cerca de vinte e um dias.
Era uma zona rica em caça, onde abundava o elefante, rinoceronte, leão e muitos animais de grande porte até à simples perdiz. Zona habitada pelos célebres MUCUBAIS, povo pacífico e simpático.
Durante o período que lá permaneci, não houve dia nenhum que não andássemos vários quilómetros de Jeep no rastro dos elefantes, onde os Mucubais diziam tê-los visto
no dia anterior. Chegados aos locais, apenas pegadas e enormes estragos que faziam à vegetação por onde passavam.
Lembro-me perfeitamente como se fosse hoje, estávamos todos à mesa, era hora do jantar, á luz do célebre PETROMAX, esperando o cozinheiro que nos trazia o jantar,(bifes, ovos estrelados e batatas fritas- pequeno almoço-almoço e jantar).
Em África havia o hábito de, nas casas das fazendas, as cozinhas eram afastadas do edifício que servia de habitação onde havia um forno a lenha onde se fazia pão e assavam uns bons petiscos.
Nisto, entra o cozinheiro pela porta traseira num rompante, espavorido, de olhos arregalados, a tremer e só não deixou cair a travessa, porque o capataz a segurou a tempo.
Perguntamos o que tinha acontecido, mas ele só conseguia balbuciar, "elefante", "quintal". Olhamos todos uns para os outros e nesse breve silêncio, ouviu-se um barulho vindo lá de fora.
Como me encontrava mais perto de minha arma, só foi tempo de introduzir um pente c/balas, uma na câmara e saí disparado para o quintal. Andei uns passos, mas como era noite escura e encadeado pela luz do Petromax, nada via e parei.
Sorte minha. Os outros demoraram mais tempo e apercebendo-se do que se passava nem da porta passaram. Após breves instantes e depois da retina se adaptar à escuridão, apercebi-me que me encontrava no meio de uma enorme manada de elefantes que passavam, uns à minha frente, quase me tocando e, outros por trás. Fiquei petrificado e não consegui mover um dedo sequer, na expectativa de ser levantado por uma tromba e espalmado por um qualquer. Via os que passavam à minha frente,iam em fila e as crias com as trombas agarradas ao rabo dos seus progenitores e ai permaneci como uma estátua, até que todos passaram sem me fazer mal. Apenas pedia a Deus que ninguém se lembrasse de disparar um tiro porque seria o meu fim, o que felizmente não aconteceu. Já a manada ia longe, as pessoas de casa aproximaram-se de mim, mas eu, sinceramente com o susto não tinha força nas pernas. Depois de voltarmos para dentro de casa, o capataz, munido de uma bateria do Jeep e uma lanterna foi verificar os estragos, enquanto me recompus do susto.
Após o jantar, que foi alvo de risadas, comentários, etc., começaram a combinar uma perseguição à manada pela madrugada ao que me opus com todas as forças e após longas horas de discussão, acabei por convencê-los a desistir.
Como poderia eu disparar um tiro contra aqueles, que se quisessem, me tinham tirado a vida num ápice?
2 comentários:
Pois que bela história e que bons sentimentos os teus.
Depois de todos estes anos, nem sei como conseguia vibrar com as caçadas aos elefantes, pobres animais indefesos.
O bicho-homem é realmente o nosso maior inimigo!
Mas que história linda!
Ainda bem que ninguém foi caçar os lindos elefantes!
Um abraço
Postar um comentário